O grupo Hypermarcasconcluiu ontem a compra do laboratório nacional Mantecorp, conforme antecipou o Valor. A transação foi avaliada em R$ 2,5 bilhões - dos quais R$ 600 milhões em dinheiro e R$ 1,9 milhão em ações da companhia.
O pagamento será dividido em duas partes. Os atuais controladores da Mantecorp, a família Mantegazza, receberão R$ 600 milhões em dinheiro. Os R$ 1,9 bilhão restantes serão quitados com ações da Hypermarcas, sendo que metade desses papéis não poderá ser negociada por um período de seis meses. Com a emissão das novas ações para a compra do laboratório, o bloco de controle dos acionistas da Hypermarcas será diluído. A empresa foi procurada, mas não quis comentar a aquisição.
A venda do laboratório nacional já estava sendo negociada há alguns meses. Nesse período, a família Mantegazza estava em conversações avançadas com outra farmacêutica nacional, a Aché, que pretendia fazer uma fusão de ativos para depois abrir seu capital, possivelmente em 2011, para brigar pela liderança nacional do setor.
As negociações tiveram uma reviravolta nas últimas semanas, quando o grupo Hypermarcas, que também já estava no páreo, começou a fazer marcação cerrada. A inglesa GlaxoSmithKline (GSK) também tinha feito uma oferta, mas bem abaixo do fechado pela companhia para o grupo Hypermarcas, conhecido no mercado por seu estilo agressivo de fazer negócios.
Com mais essa aquisição, a Hypermarcas vai adicionar às suas mais de 160 marcas uma lista de medicamentos tradicionais, como o antigripal Coristina, os antialérgicos Polaramine e Celestamine, o antipirético e analgésico Alivium, a linha de proteção solar Episol e de hidratantes Epidrat. A Mantecorp também tem uma pequena divisão de genéricos, a Brainfarma, que poderá receber investimentos para ganhar maior robustez no mercado, após essa transação.
Desde o fim do ano passado, a Hypermarcas tem jogado pesado para ganhar maior participação no mercado farmacêutico, que até antes dessa operação respondia por quase 40% de sua receita total - estimada em R$ 4 bilhões para 2010.
No fim de 2009, a empresa deu uma tacada certeira com a compra da Neo Química, desbancando a farmacêutica americana Pfizer, para adquirir um dos maiores laboratórios especializados em genéricos, instalado em Anápolis, em Goiás. No complexo goiano, a empresa está dobrando a atual infraestrutura e ampliando o centro de distribuição. Neste mesmo local, a Hypermarcas está promovendo a incorporação de suas outras duas empresas farmacêuticas, a DMe Farmasa.
A mais recente aquisição da companhia nesse segmento foi em novembro, com a compra de três
marcas de medicamentos da farmacêutica Medley, controlada pela francesa Sanofi-Aventis: a Digedrat, Peridal e Lopigrel.
Com a aquisição da Mantecorp, a Hypermarcas deverá se tornar o maior laboratório nacional em receita, com faturamento estimado pelo mercado em torno de R$ 2,2 bilhões em 2010.
Para a família Mantegazza, a decisão de vender a Mantecorp reflete a delicada situação financeira da companhia, sobretudo nos últimos meses. No ano passado, o laboratório sofreu um forte golpe em sua receita, quando perdeu o licenciamento de vendas de importantes produtos, como o Remicade, da americana Schering-Plough, que foi recentemente adquirida pela também americana Merch Sharp & Dhome (MSD). Com a retomada desses produtos, as vendas do laboratório tiveram forte queda.
O bloco de controle dos acionistas da Hypermarcas, composto pelo empresário João Alves Queiroz Filho, o Júnior, pelos mexicanos e pela família Limirio Gonçalves (ex-proprietários da Neo Química), será diluído com a emissão de novos papéis para comprar a Mantecorp. O
Valor apurou que sua fatia conjunta deverá cair para algo em torno de 45%, tornando a Hypermarcas a maior companhia de capital pulverizado do setor no Brasil.
A Mantecorp tem em torno de R$ 740 milhões de vendas brutas e R$ 360 milhões de margem bruta, o que deve gerar um resultado adicional expressivo para a Hypermarcas, já que as empresas apresentam sinergias. O Ebtida a ser acrescido pela Mantecorp para a Hypermarcas deve chegar a R$ 250 milhões.
Com uma fábrica no Rio, a Mantecorp deverá promover a expansão fabril da Hypermarcas pelo país, que só adquiriu uma fábrica própria após a compra da Neo Química, que já possuía uma infraestrutura organizada em Anápolis (GO). Por sua localização geográfica, a inglesa GSK, com fábrica no Rio, também tinha interesse em adquirir a companhia e ganhar mais uma unidade de produção no país.
A Mantecorp contratou a butique de fusões e aquisições Inspire Capitale o escritório Martins, Chamon e Franco. A gigante Hypermarcas foi assessorada pelo BR Partnerse Credit Suisse e pelo Souza Cescon.
Fontes próximas à Hypermarcas garantem que essa não deverá ser a última aquisição da companhia no setor farmacêutico. O grupo quer fazer sua expansão no mercado de OTC ("over the counter", ou depois do balcão), com produtos de marcas com forte apelo de vendas. Essa última aquisição também deverá dar maior espaço à companhia no segmento de medicamentos de prescrição médica, onde a companhia ainda tem muito espaço para crescer.
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