Quanto vale o prazer
Uma nova droga, hoje em teste, pode determinar o tamanho desse mercado
O novo medicamento promete combater a falta de desejo sexual que atinge 40% das mulheres
Revista EXAME -
Revolução é um termo desgastado. Mas não há palavra melhor para mostrar as consequências do lançamento do Viagra no comportamento sexual de milhões de homens e nas receitas da indústria farmacêutica mundial.
Lançado dez anos atrás pela americana Pfizer, o medicamento contra a disfunção erétil tornou-se rapidamente um best-seller, ganhou concorrentes e criou um mercado estimado pela consultoria Pribo em 3,8 bilhões de dólares.
Tão logo a pílula azul se tornou um fenômeno, a indústria farmacêutica percebeu que faltava algo semelhante para os 50% restantes da população mundial: as mulheres. Agora, a corrida pelo Viagra feminino pode estar chegando ao fim. Nos últimos meses, o laboratório alemão Boehringer Ingelheim, que já criou remédios contra depressão, doenças do coração e Aids, tem recrutado milhares de mulheres nos Estados Unidos para participar do desenvolvimento de um medicamento que aumenta o desejo sexual feminino.
Quase 5 000 mulheres, em 220 cidades, já se candidataram. Segundo a Boehringer, os resultados até agora são satisfatórios. As mulheres submetidas ao tratamento, cuja base é uma molécula chamada flibanserin, relatam um "significativo aumento" no desejo sexual.
A descoberta de que a substância despertava a libido feminina ocorreu por acaso. No início da pesquisa, o laboratório tentava desenvolver uma droga antidepressiva. Os homens diziam não sentir nada. Um efeito colateral, porém, surpreendeu os cientistas: as mulheres, seguidamente, relatavam aumento no apetite sexual. O Boehringer Ingelheim espera concluir os testes em breve e, até o fim do ano, obter a certificação da Food and Drug Administration, a poderosa agência reguladora americana do setor de medicamentos e alimentos.
Trata-se da mais promissora tacada da indústria de medicamentos para combater a falta de desejo sexual feminino, problema que atinge cerca de 40% das mulheres. As pesquisas, até agora, encontraram duas barreiras.
A primeira é o modo pelo qual as mulheres se sentem estimuladas a fazer sexo - um processo mental e, diferentemente dos homens, sem tanta influência mecânica. Por essa razão, medicamentos como o Intrinsa, um adesivo de testosterona lançado pela Procter&Gamble em 2003, acabaram rejeitados pelas consumidoras. A droga liberava gradualmente hormônio sexual na circulação sanguínea, aumentando a irrigação e a lubrificação na região vaginal. Facilitava a prática de sexo, mas não a estimulava.
A segunda barreira é a rigorosa atuação dos órgãos que regulam a venda de medicamentos. Entidades como a americana FDA e a brasileira Anvisa analisam com cuidado redobrado drogas que agem no sistema nervoso central e que podem ser usadas como uma escolha de "estilo de vida".
O potencial do mercado, porém, estimula os laboratórios a perseverar nas pesquisas. O mercado de medicamentos para disfunção erétil deve dobrar até 2012. E estima-se que as pílulas femininas do sexo possam gerar faturamentos nesse mesmo patamar. "É um mercado com enorme potencial para as farmacêuticas", diz Stacy Lindau, pesquisadora do Medical Center da Universidade de Chicago.
O Boehringer Ingelheim foi o primeiro a conseguir resultados concretos na fase de testes. Para potencializar o efeito, porém, as mulheres precisam tomar o medicamento entre seis e oito semanas seguidas. Não funciona exatamente como a pílula azul da Pfizer, mas é o mais próximo que a ciência conseguiu chegar, até agora, da versão feminina do Viagra.
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