sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A gente é idiota

O artigo abaixo acabou de ser postado no jornal o GLOBO pelo jornalista Sardenberg.

Como estou na área farmacêutica, achei muito interessante e oportuno o comentário feito por ele sobre as novas regras da ANVISA sobre a automedicação. Sob meu ponto de vista estamos querendo "curar a doença" matando o paciente e não eliminando a causa. Faça você sua leitura e forme opinião sobre o tema.

"Você está na Rua Dias Ferreira, calor de rachar, quando vislumbra a imagem luminosa de uma geladeira de sorvetes.

Entra, pede um picolé e, quando vai pagar, percebe que está numa farmácia. Aí, você aproveita e decide comprar um antibiótico.

É isso que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, acha que acontece.

Pelas novas regras, as farmácias não podem mais vender balas, sorvetes, bengalas, guarda-chuvas, enfim, nada que não seja medicamento ou coisa próxima.

Mamadeira, por exemplo, pode. Roupinha de bebê, não pode.

Qual o argumento? Evitar a automedicação e o uso excessivo de remédios.

E como se faz isso? Reduzindo o número de pessoas que entram numa farmácia.

Ou seja, o pessoal da Anvisa acha que, proibindo o consumidor de comprar chiclete na farmácia, reduz o uso de anti-inflamatórios. Ou, vendo a história pelo reverso, o pessoal acha que o sujeito entra para comprar um chiclete de um real e sai com um pacote de medicamentos de 50 reais.

Além disso, a nova regra determina que as farmácias não poderão colocar os medicamentos de venda livre nas gôndolas e prateleiras, ao alcance dos consumidores. Os produtos deverão ficar atrás dos balcões e o consumidor precisará pedir a um funcionário da farmácia.

Mesmo argumento. O sujeito entra para comprar um comprimido para dor de cabeça e resolve levar antigripal, xarope, preservativo, diurético e tal. Diretores da Anvisa disseram que é preciso proteger o consumidor e evitar que ele caia nas armadilhas insidiosas dos donos de farmácias ou ceda a seus piores instintos de tomar qualquer medicamento que apareça na sua frente.

Mesmo que isso fosse verdade, não resolveria o problema. É óbvio que o funcionário da farmácia, ao entregar o produto solicitado pelo consumidor, vai perguntar: mais alguma coisa? A pessoa que gosta de um remediozinho e os hipocondríacos continuarão indo à farmácia buscar as novidades.

A coisa toda só vai atrapalhar o consumidor normal, a imensa maioria.

Mas há mais. Com essas regras e suas explicações, a Anvisa está dizendo que nós, consumidores, somos uns idiotas, uns bobalhões, vítimas fáceis de charlatães. Assim, o governo, formado por sábios, como todos sabem, precisa dizer o que a gente pode ou não comprar e onde.

Esse cidadão normal, estando doente, obviamente deseja ser atendido por um bom médico, receber a receita e adquirir os remédios corretos numa farmácia confiável. Só não faz isso quando não tem acesso à consulta – acesso a tempo, bem entendido, não esperando dias.

Assim, parece razoável supor que a pessoa se medica quando não consegue ser atendida no SUS ou não tem dinheiro para pagar um serviço privado.

E aí entra o problema adicional: o automedicamento funciona porque se compra sem receita, o que é ilegal.

De maneira que a Anvisa, que regula os planos e seguros saúde, tem aí dois desafios sérios: garantir atendimento eficiente aos doentes e controlar a venda com receita.

Em vez de fazer isso, proíbe a venda de picolés em farmácias. Impõe um desconforto ao consumidor e um custo às farmácias. Todas precisarão mudar seu layout, trocar os móveis.

Para as grandes redes, pode ser um custo normal. Para as pequenas, não.

Além disso, as novas regras retiram faturamento das farmácias, o que encarece toda a operação e, pois, coloca uma pressão adicional sobre os preços de medicamentos.

Em 2007, a Anvisa colocou tais regras em consulta pública, De lá para cá, não houve mudança nesse quadro de assistência insuficiente e venda ilegal sem receita. E o que faz a Anvisa? Resolve complicar o comércio legal.

Reparem: quem vendia sem receita, continuará vendendo. Quem vendia dipirona do Paraguai, continuará vendendo, talvez mais. A farmácia que fazia tudo certinho, vendendo medicamentos e picolés de qualidade, será prejudicada.

Só pode o ilegal.

Por que não copiam um sistema que funciona? Nos Estados Unidos, você compra muitas coisas nas farmácias, verdadeiras lojas de conveniência. Mas não consegue de jeito nenhum comprar medicamento restrito sem receita.

Aqui, eles montam um sistema que vende remédio sem receita, mas não vende picolés nem com receita."

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

Uma ótica bem interessante sobre os hábitos de consumo!


Me acostumei no blog a indicar literatura interessante para leitura. Como costumo ler de dois a três livros simultâneos, posso indicar com segurança o que considero leitura obrigatória em marketing.

Em "Hábitos de consumo", Neale Martin nos oferece o que parece ser uma simples observação: o comportamento humano é gerenciado em grande parte por um processo inconsciente. De forma impactante, Martin demonstra o seu ponto de vista e em seguida começa a questionar muito do que os profissionais de marketing sempre acreditaram que fossem verdades absolutas. Esta é uma leitura que vale a pena e que tem profundas implicações no trabalho daqueles que constroem marcas e vendem produtos.

A leitura é muito agradável, principalmente para quem é apaixonado por marketing (como eu), pois ele parte de um dogma - que devemos satisfazer as necessidades dos clientes. Porém, pesquisas mostram que 85% dos clientes que trocam as marcas (a marca que gerenciamos) está satisfeito com elas! Mas porque ele troca de produtos então?

A questão do hábito de consumo sob a ótica de Neale Martin é interessante por abordar o consumo sob o ponto de vista da mente insconsciente e da mente executiva. Ou seja, boa parte do que fazemos, segundo o autor está na mente insconsciente e por isto se torna um hábito.

Tentar "quebrar" um hábito portanto é uma tarefa muito complexa e mais difícil que imaginam os profissionais de marketing, pois invariavelmente trabalhamos as questões sob o prisma da mente executiva (o que é certo, errado, lógico) e não da mente inconsciente!

Enfim, um livro que é leitura obrigatória para compor um pensamento mais crítico sobre os hábitos de consumo e como podemos observar o cliente de forma diferente.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Anvisa proíbe publicidade de antigripais

Está proibida no país a propaganda de antigripais. A medida, tomada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), atinge todos os produtos com propriedades analgésicas e antitérmicas e os destinados ao alívio dos sintomas da gripe.

Entre eles, estão aqueles à base de ácido acetilsalicílico, como Aspirina, de paracetamol, como Tylenol, e de dipirona, como Novalgina. Há pelo menos 500 medicamentos com esses componentes registrados no Brasil.

O objetivo da medida, segundo a Anvisa, é evitar que o consumo dessas substâncias mascare os sintomas da gripe suína, o que poderia adiar o diagnóstico da doença e, em consequência, dificultar o tratamento.

A suspensão das propagandas é temporária, mas não há um prazo estabelecido. A revogação será feita quando acabar a "circunstância especial de saúde", diz a resolução.

Quem descumprir a proibição da Anvisa poderá receber multa de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão. A restrição à publicidade vale para a televisão, o rádio, a internet e qualquer outro meio.

Embora o governo sempre divulgue que a gravidade da gripe A (H1N1) é a mesma de todos os vírus influenza, nos últimos anos nenhuma medida nesse sentido foi tomada em relação à gripe sazonal. A Anvisa diz que, por se tratar de um novo vírus, o ideal é que se tenha a menor interferência possível sobre os sintomas.

A agência afirma também que não está prevista nenhuma medida para orientação sobre o uso dos antigripais porque realiza campanhas constantemente com a intenção de desestimular a automedicação.

Comercialização liberada
A resolução da Anvisa atinge apenas a publicidade dos antigripais. Não há nenhuma restrição à comercialização deles.

Em nota, a agência afirmou que esses produtos têm "eficácia e segurança bastante conhecidas" e podem ser úteis no tratamento dos sintomas da gripe.

Ainda assim, a orientação do governo é que as pessoas com os sintomas, antes de tomar qualquer remédio, consultem um médico para fazer o diagnóstico. Se não for possível, que procurem um farmacêutico para passar as informações sobre os produtos, como as indicações e os efeitos colaterais.

"A propaganda fala sobre o produto, mas não informa sobre uma série de coisas", diz o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello.

Segundo a Anvisa, um médico deve ser procurado para eventual tratamento de gripe A (H1N1) sempre que o paciente tiver febre repentina de mais de 37,5°C, tosse e pelo menos um outro sintoma de gripe, como dor de cabeça e dores musculares e nas articulações.

O mesmo procedimento foi adotado no ano passado, mas em caráter de recomendação à indústria. Na época, havia uma epidemia de dengue no país e surgiu a suspeita de que pacientes com a doença haviam tido problemas no fígado por causa do uso de analgésicos.

De acordo com a Abimip (Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição), o setor investiu cerca de R$ 1,2 bilhão em 2008 em propaganda de remédios que não necessitam de prescrição. A maior parte dos gastos foi para anúncios de remédios contra gripes e resfriados.
A Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica não quis comentar a decisão da Anvisa.

A Johnson&Johnson (fabricante do paracetamol Tylenol) e a Bayer (que produz a Aspirina) limitaram-se a informar que irão adotar as determinações da agência.

(Folha de S. Paulo) Jornalista: Indefinido