terça-feira, 25 de agosto de 2009

P&G vende divisão farmacêutica

A Procter & Gamble voltou a direcionar o foco a seus negócios principais e acertou, ontem, a venda de sua divisão farmacêutica para o laboratório irlandês Warner Chilcott por US$ 3,1 bilhões.

No Brasil, a P&G não vende remédios que precisam de prescrição médica. Os produtos farmacêuticos comercializados no mercado brasileiro - linhas Vick, Hipoglós e Metamucil - não pertencem à divisão vendida ontem.

A transação, que será financiada com títulos de dívidas, encerrará as atividades da P&G no setor de medicamentos, altamente competitivo, e triplicará o tamanho da Warner Chilcott, voltada a produtos farmacêuticos para mulheres e dermatologia.

A venda chega depois da revisão estratégica anunciada em dezembro, quando a P&G avaliou se continuaria com as operações, se faria alianças ou se venderia a unidade farmacêutica, em meio ao que a empresa chamou de "um dos cenários macroeconômicos mais difíceis em décadas".

O acordo segue-se ao aumento dos investimentos de vários laboratórios farmacêuticos, como GlaxoSmithKline e Novartis, em produtos de cuidados com a saúde vendidos sem receita médica, como forma de diversificar-se e proteger-se das incertezas com o desenvolvimento de novas drogas e o vencimento de patentes de alguns de seus produtos.

O preço de venda representou um múltiplo relativamente baixo dos resultados da unidade e refletiu a "vida finita das patentes" das operações vendidas, segundo o diretor de finanças da P&G, Jon Moeller, disse a analistas.

No ano encerrado em 30 de junho, a empresa teve lucro líquido de US$ 540 milhões e vendas de US$ 2,3 bilhões com a divisão farmacêutica.O acordo foi "atrativo" aos acionistas e proporcionam mais financiamento para futuros investimentos, pagamentos de dividendos e recompras de ações. A venda trará lucro, incluindo itens excepcionais, de US$ 1,4 bilhão, depois de impostos no ano fiscal de 2010.

"A aquisição transforma a Warner Chilcott em uma companhia farmacêutica global", disse o CEO da Warner Chilcott, Roger Boissonneault. Permitirá à Warner Chilcott, que divulgou lucro líquido de US$ 364 milhões e vendas de US$ 938 milhões em 2008, expandir-se nos Estados Unidos e incrementar sua linha de remédios de urologia graças às drogas para tratar bexiga, colite e osteoporose.

O acordo deverá ser completado em 1º de novembro. A maioria dos 2,3 mil funcionários da unidade farmacêutica da P&G deverá ser transferida à Warner Chilcott.

A Procter & Gamble foi assessorada na transação pelo banco Goldman Sachs e trabalhou com advogados da Covington & Burling. A Warner Chilcott teve assessoria do Morgan Stanley e JPMorgan e da banca de advocacia Davis Polk & Wardwell.

Valor Econômico

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O debate apenas começou....

Ao que parece, as novas regras para a venda de medicamentos nas gôndolas de farmácia está gerando um debate muito interessante na mídia. Abaixo outra publicação da Folha de São Paulo sobre o tema.


"A Anvisa está querendo tutelar a população" (Folha de S. Paulo)

22/08/2009 - A nova regulamentação para farmácias entra em vigor daqui a seis meses, mas as redes representadas pela Abrafarma já pensam em recorrer à Justiça para não ter que se adaptar. Segundo o presidente da entidade, Sérgio Mena Barreto, os consumidores querem que farmácias e drogarias continuem a vender itens de conveniência.

Para ele, tirar os medicamentos das prateleiras acessíveis pode dificultar a comparação de preços. "Será que brasileiro é um coitadinho que não sabe o que é bom para si?"

FOLHA - Por que a Abrafarma é contra tirar os remédios vendidos sem receita do meio das lojas?

BARRETO - No mundo inteiro, Argentina, Chile, Inglaterra, EUA, você vai ver esses produtos fora do balcão. O paciente, tendo acesso à informação, toma conta de seus pequenos problemas. Isso até reduz o custo do sistema de saúde. O autocuidado é uma tendência. Nos últimos anos, outros países estão transformando remédios de tarja vermelha em produtos livres de prescrição. Enquanto outros governos dão mais poder ao consumidor, aqui estamos restringindo.

FOLHA - Qual será a consequência para o consumidor, ao passar a pedir todos os remédios no balcão?

BARRETO - A pessoa está na gôndola e vê quatro tipos de antiácidos: ou compra pela marca, ou pelo preço. Se não tiver mais acesso, o farmacêutico pode indicar a ela um produto com margem mais alta de lucro. A médio prazo, pode não ser vantajoso para o consumidor.

FOLHA - Já está claro o que não vai mais ser vendido na farmácia?

BARRETO - Teoricamente, o que não está na lista [da regulamentação da Anvisa], não pode, inclusive serviços. Hoje, há 15 mil farmácias que funcionam como correspondentes bancários. Em muitas cidades não há correios, nem banco. E não vejo problema em vender cartão telefônico: é utilidade pública.

FOLHA - A Anvisa diz que a resolução vai consolidar o papel da farmácia como estabelecimento de saúde.

BARRETO - Esse conceito de que farmácia é estabelecimento de saúde e não de comércio é ideológico, do presidente da Anvisa. Farmácias são registradas em junta comercial, seguem regras do direito comercial. Crença é uma coisa, lei é outra. A Anvisa tem que seguir a lei. Se é para mudar, tem que levar a discussão à Câmara dos Deputados.

FOLHA - Você acha que os consumidores são a favor da nova regra?

BARRETO - Fizemos duas pesquisas, há dois anos. O resultado foi que 75% das pessoas são a favor de que as farmácias tenham produtos de conveniência e serviços. A vida real não acontece no gabinete da Anvisa. A vida real é no balcão da farmácia. Quero ver o que o presidente da Anvisa diria se chegasse numa cidade sem hospital, em que os prefeitos despacham as pessoas para a capital. Aí o paciente vai na minha farmácia sem a receita do remédio de uso contínuo. Deixo a pessoa morrer? Será que tirando o medicamento da presença da pessoa, dizendo que não pode comprar sem receita, resolve o problema do acesso à saúde? Ninguém gosta de gastar com remédio. A pessoa não vai à farmácia comprar cartão telefônico e "aproveita" para levar remédio para hipertensão. Será que o brasileiro é um coitadinho que não sabe o que é bom para si? A Anvisa está querendo tutelar a população.