segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O debate apenas começou....

Ao que parece, as novas regras para a venda de medicamentos nas gôndolas de farmácia está gerando um debate muito interessante na mídia. Abaixo outra publicação da Folha de São Paulo sobre o tema.


"A Anvisa está querendo tutelar a população" (Folha de S. Paulo)

22/08/2009 - A nova regulamentação para farmácias entra em vigor daqui a seis meses, mas as redes representadas pela Abrafarma já pensam em recorrer à Justiça para não ter que se adaptar. Segundo o presidente da entidade, Sérgio Mena Barreto, os consumidores querem que farmácias e drogarias continuem a vender itens de conveniência.

Para ele, tirar os medicamentos das prateleiras acessíveis pode dificultar a comparação de preços. "Será que brasileiro é um coitadinho que não sabe o que é bom para si?"

FOLHA - Por que a Abrafarma é contra tirar os remédios vendidos sem receita do meio das lojas?

BARRETO - No mundo inteiro, Argentina, Chile, Inglaterra, EUA, você vai ver esses produtos fora do balcão. O paciente, tendo acesso à informação, toma conta de seus pequenos problemas. Isso até reduz o custo do sistema de saúde. O autocuidado é uma tendência. Nos últimos anos, outros países estão transformando remédios de tarja vermelha em produtos livres de prescrição. Enquanto outros governos dão mais poder ao consumidor, aqui estamos restringindo.

FOLHA - Qual será a consequência para o consumidor, ao passar a pedir todos os remédios no balcão?

BARRETO - A pessoa está na gôndola e vê quatro tipos de antiácidos: ou compra pela marca, ou pelo preço. Se não tiver mais acesso, o farmacêutico pode indicar a ela um produto com margem mais alta de lucro. A médio prazo, pode não ser vantajoso para o consumidor.

FOLHA - Já está claro o que não vai mais ser vendido na farmácia?

BARRETO - Teoricamente, o que não está na lista [da regulamentação da Anvisa], não pode, inclusive serviços. Hoje, há 15 mil farmácias que funcionam como correspondentes bancários. Em muitas cidades não há correios, nem banco. E não vejo problema em vender cartão telefônico: é utilidade pública.

FOLHA - A Anvisa diz que a resolução vai consolidar o papel da farmácia como estabelecimento de saúde.

BARRETO - Esse conceito de que farmácia é estabelecimento de saúde e não de comércio é ideológico, do presidente da Anvisa. Farmácias são registradas em junta comercial, seguem regras do direito comercial. Crença é uma coisa, lei é outra. A Anvisa tem que seguir a lei. Se é para mudar, tem que levar a discussão à Câmara dos Deputados.

FOLHA - Você acha que os consumidores são a favor da nova regra?

BARRETO - Fizemos duas pesquisas, há dois anos. O resultado foi que 75% das pessoas são a favor de que as farmácias tenham produtos de conveniência e serviços. A vida real não acontece no gabinete da Anvisa. A vida real é no balcão da farmácia. Quero ver o que o presidente da Anvisa diria se chegasse numa cidade sem hospital, em que os prefeitos despacham as pessoas para a capital. Aí o paciente vai na minha farmácia sem a receita do remédio de uso contínuo. Deixo a pessoa morrer? Será que tirando o medicamento da presença da pessoa, dizendo que não pode comprar sem receita, resolve o problema do acesso à saúde? Ninguém gosta de gastar com remédio. A pessoa não vai à farmácia comprar cartão telefônico e "aproveita" para levar remédio para hipertensão. Será que o brasileiro é um coitadinho que não sabe o que é bom para si? A Anvisa está querendo tutelar a população.

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