quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Exposição com videogame gigante simula prevenção e tratamento de doenças epidêmicas

Pela primeira vez na América, a exposição francesa “Epidemik: o impacto das epidemias na sociedade ao longo dos séculos” será aberta ao público carioca nesta terça-feira (20/10), apresentando como principal atração um gigantesco videogame de 270 metros quadrados com situações simuladas de crises epidêmicas para mais de 40 jogadores.

No jogo, os participantes enfrentarão situações reais ou fictícias nas quais terão de interagir.Os cenários propostos são gripe aviária em Cingapura, ataque biológico terrorista em Nova York, malária e aids na África e na Ásia e dengue no Rio de Janeiro – este especialmente desenvolvido para o Brasil, com conteúdo e iconografia preparados por técnicos e cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A Epidemik original, montada há um ano no museu de La Cité des Sciences e de l’Industrie de la Villette, na capital francesa, recebeu até hoje mais de 300 mil visitantes, em sua maioria estudantes. Desenvolvido pela empresa Stratosphère, o jogo começa quando o visitante da exposição pisa no tabuleiro e recebe uma aura colorida individual projetada no chão, que o acompanha por toda a simulação.

A luz colorida muda à medida que o jogador adota precauções ou providências para o tratamento do seu estado de saúde, sempre orientado por informações projetadas numa tela gigante. Vinte monitores auxiliarão os participantes durante o jogo, que também é acessível a cadeirantes.

Totalmente gratuita, a exposição é dirigida à população em geral, principalmente aos jovens estudantes.“A Epidemik faz parte do Ano da França no Brasil e é a primeira vez que é apresentada fora da França”, diz a coordenadora executiva da exposição, Cristina Moscardi, da empresa Sanofi-Aventis, maior indústria farmacêutica europeia e parceira da Fiocruz na iniciativa. “É importante destacar que a exposição no Rio ocorre simultaneamente à que está montada no La Cité, e que, além da dengue, outra novidade brasileira é o filme sobre o centenário da descoberta do mal de Chagas, também exibido na exposição”.

A antropóloga Gisele Capel, da Fiocruz e curadora da Epidemik, enfatiza outro aspecto: “Conseguimos montar no Brasil uma exposição multimídia de alta tecnologia, que vai capacitar técnicos brasileiros no que existe de mais avançado no mundo.

As equipes francesas e brasileiras envolvidas estão numa cooperação efetiva, raramente vista em casos semelhantes”.A Epidemik já ocupa a área de mais de 1.200 metros quadrados, dividida em dois blocos, com pé direito de seis metros.

O primeiro bloco aborda a história milenar dos homens e das epidemias e faz uma retrospectiva do tema desde o período Neolítico, passando pela Antiguidade, a Idade Média e a Revolução Industrial, até os dias atuais.

A proposta é discutir as condições que favoreceram o surgimento das epidemias, os meios que foram utilizados para combatê-las e o impacto que tiveram sobre a vida das populações. Obras de artistas franceses servem de fio condutor para traçar uma linha do tempo e situar as diferentes epidemias ao longo dos séculos.

Obras brasileiras do acervo do Itamaraty, do Instituto Moreira Salles, da Fiocruz e do Instituto Butantan destacam momentos marcantes da história das epidemias no país. O videogame coletivo é o destaque do segundo bloco.

A exposição “Epidemik: o impacto das epidemias na sociedade ao longo dos séculos” estará aberta ao público, com entrada franca, entre 20 de outubro e 24 de novembro, no Centro Cultural da Ação da Cidadania, à Avenida Barão de Tefé, 75, na Saúde, na zona portuária do Rio de Janeiro.

O horário de visitação é de 8h30m às 19h30m e as visitas escolares podem ser agendadas pelo telefone (21) 3865-2128, das 9h às 17h.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O custo de envelhecer

A população mundial está envelhecendo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que haja 2 bilhões de idosos no mundo em 2025. Em 2000 havia 605 milhões.

Em 15 anos o Brasil será o sexto país no mundo em número de idosos. Será que estamos preparados para isso?Todos podemos adoecer.

Esse risco é alto no primeiro ano de vida, declina na infância e cresce com a idade, especialmente a partir dos 50 anos. Estudos em países da União Europeia mostram que os gastos aumentam mais de dez vezes para indivíduos acima de 70 anos, em relação aos gastos com pessoas entre 5 e 19 anos. No Japão a história se repete: os gastos per capita em saúde para pessoas com mais de 75 anos são 7,5 vezes maiores do que para os jovens.

No Brasil, os gastos com a saúde dos idosos são mais de seis vezes maiores do que na infância. No entanto, é muito comum vermos consumidores reclamando que, ao completarem 60 anos de idade, têm as suas mensalidades dos planos de saúde reajustadas em valores exorbitantes.

Por que será? O sistema de planos de saúde funciona por mutualismo. As operadoras administram a arrecadação do pagamento das mensalidades e indenizam aqueles que precisaram fazer uso dos serviços médicos cobertos pelo plano naquele período.

Se o idoso utiliza mais o seu plano e, portanto, o risco médio de sua faixa etária é maior, compreende-se por que ele deve pagar uma mensalidade maior. A lei dos planos de saúde reconhece esse fato e permite que se discriminem as mensalidades dos beneficiários por faixas etárias, e exclusivamente por estas, mas isso não ocorre livremente.

A regulação que rege as operadoras de planos de saúde estabelece regras para a diferença de preços por faixa etária. São admitidas dez faixas etárias, o preço da última não pode ser maior do que seis vezes o da primeira e a variação da sétima para a décima não pode ser maior do que a variação entre a primeira e a sétima. Para as faixas intermediárias não há regras e os reajustes podem ser feitos nas mudanças de cada faixa ou de uma só vez.

Como a variação de custos entre a primeira e última faixa etária é maior do que seis vezes, o equacionamento exige que algumas gerações subsidiem outras. Para respeitar as regras de preço e o necessário equilíbrio econômico-financeiro as operadoras cobram um pouco mais do que o risco (custo médio) das faixas abaixo dos 59 anos e menos do que o risco (custo médio) dos idosos.

Assim, jovens pagam mais que o risco médio de sua faixa etária e os idosos, menos, com os mais jovens subsidiando os mais idosos.

Esse mecanismo, no entanto, causa um problema: os mais jovens, percebendo essa diferença, optam por não contratar planos de saúde, havendo, assim, menor número de beneficiários entre a população mais jovem do que haveria se o prêmio correspondesse ao risco de cada faixa etária. Essa "fuga dos mais jovens" reduz o valor que é transferido entre gerações para subsidiar os planos dos mais idosos, o que eleva o seu custo para todos. A consequência é que permanecem ou aderem ao plano os idosos e as pessoas que mais precisam dos serviços de assistência à saúde.

Estudo recente mostra que os porcentuais de reajuste nas três últimas faixas etárias (a partir do 44 anos), calculados conforme a regulação, são, de fato, altos. Algumas operadoras dispensam os reajustes intermediários e concentram toda a variação na passagem dos 58 para os 59 anos, o que resulta em elevado porcentual.

Não obstante o descontentamento que provoca, essa prática é benéfica para o consumidor. Pela ótica financeira, o consumidor que tem seu plano reajustado segundo a regulação, porém concentrando o reajuste na última faixa etária, deixa de gastar boa parte da mensalidade durante dez anos.

Esse valor aplicado mensalmente em caderneta de poupança acumularia valor suficiente para pagar 40 mensalidades do plano de saúde após os 60 anos. Nesse modelo ganham os beneficiários e os planos de saúde, que mantêm mais beneficiários jovens em suas carteiras e, com isso, têm os custos mais diluídos.Acontece que nem todos detêm essa informação.

Apesar de constar em lei e em contratos, o reajuste por faixa etária tem sido objeto de inúmeros processos judiciais. Entretanto, cabe abordar a repercussão econômico-financeira de decisões que superem regras pactuadas ou que alterem os parâmetros previamente estabelecidos.

As operadoras, para comercializarem um produto, têm de realizar os cálculos atuariais para comprovarem a capacidade de honrar o compromisso de garantir a assistência ao beneficiário no longo prazo. As empresas que concentram o reajuste na última faixa etária - o que não é vedado pelas normas - o fazem com base nesses cálculos.

Decisões judiciais que não sigam estritamente o que foi previsto no contrato alteram o equilíbrio econômico-financeiro, podendo mesmo ameaçar a solvência da operadora.O cenário para gastos em saúde é de comprometimento cada vez maior da renda, tanto a de impostos como a dos indivíduos, para suprir as necessidades de assistência à saúde.

Incentivar um comportamento prudente da população e apresentar as alternativas para o planejamento financeiro de longo prazo faz parte da mudança cultural necessária para enfrentar as mudanças no padrão de consumo decorrente do crescimento das despesas médico-hospitalares.

O brasileiro, que se criou na cultura inflacionária, tem arraigada a cultura do ganhar para gastar na mesma hora. Porém o cenário econômico mudou e este novo momento exige uma mudança cultural da população para planejar as suas rendas e despesas no longo prazo, tornar-se mais responsável pela suas ações e se preparar para a aposentadoria, quando a renda diminui e os gastos crescem.


José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), foi ministro de Estado da Previdência e Assistência Social

Para a Sanofi, ainda há espaço para compras no País

A francesa Sanofi-Aventis identifica muito espaço para crescer no Brasil, mesmo depois da compra em abril do laboratório Medley, maior fabricante de genéricos do País - um negócio de R$ 1,5 bilhão. Com a aquisição, a companhia se tornou a maior empresa farmacêutica do Brasil, com participação de mercado de 11,1%."Ainda existem oportunidades de aquisições", afirmou Christopher Viehbacher, presidente mundial da Sanofi-Aventis, em visita ao País. "Mas não dá para prever quando.

É como pescar. Você joga a isca, mas não sabe quando o peixe vai morder." Ele não quis comentar se está em negociações.

A Sanofi-Aventis anunciou ontem a instalação de uma nova fábrica no polo industrial de Brasília, para a fabricação de anticoncepcionais genéricos, um segmento onde a Medley ainda não atuava. Segundo Heraldo Marchezini, presidente da subsidiária brasileira, esse era um projeto que estava sendo tocado pela Medley quando a empresa foi adquirida, e que foi ampliado para atender às necessidades da Sanofi-Aventis.O investimento será de US$ 45 milhões, com previsão de inauguração em 2012.

A empresa planeja investir, num período de três anos, US$ 100 milhões no País, incluindo a nova fábrica. A empresa vai ampliar suas unidades no Estado de São Paulo. Com três fábricas no País, nas cidades de Suzano, Campinas e Sumaré (SP), a Sanofi-Aventis emprega cerca de 4 mil pessoas e faturou R$ 3,278 bilhões no ano passado.A Sanofi-Aventis Brasil é, atualmente, a oitava maior subsidiária do grupo. O objetivo é chegar a 2012 entre as cinco maiores filiais.

"Isso acontecerá tanto pelo crescimento contínuo do Brasil quanto pelo declínio de algumas operações europeias", disse Viehbacher. "O Brasil foi menos afetado pela crise mundial."O executivo destacou a necessidade de as empresas farmacêuticas criarem uma presença diversificada, com medicamentos de pesquisa (com patentes em vigor), remédios sem prescrição médica, genéricos e vacinas. "As empresas não podem ser dependente de patentes", disse.

"A área de vacinas, por exemplo, exige grandes investimentos, e uma presença importante nessa área oferece uma proteção contra o declínio de participação de mercado."A Sanofi-Aventis trabalha numa vacina contra a dengue e está investindo US$ 500 milhões numa fábrica para o medicamento, que ainda está na fase 2 de desenvolvimento, de verificação da sua eficácia em pacientes. "A diversificação geográfica também é importante", disse Viehbacher.

"A dengue, por exemplo, não é uma doença que afeta todos os países."Os planos da empresa incluem transformar o Brasil em uma plataforma de exportações para a América Latina e outros lugares do mundo. "A fábrica de Suzano já exporta cerca de 21% de sua produção", disse Marchezini. Os clientes externos estão em 11 países latino-americanos. Segundo Viehbacher, a Sanofi-Aventis também planeja ampliar as atividades de pesquisa e desenvolvimento no Brasil.

Atualmente, a empresa conta com duas unidades de pesquisa clínica no País, que receberam mais de US$ 40 milhões de investimento nos últimos anos.

Fitoterápicos: instituições científicas de ponta estudam plantas


A apropriação de plantas e ervas para fins medicinais remete aos primórdios da humanidade. E, até hoje, tomamos chás e extratos cujos poderes foram descobertos há séculos por nossos antepassados.

Os medicamentos vegetais, no entanto, há muito ultrapassaram a condição de “chazinhos” e, cada vez mais, o conhecimento tradicional vem sendo aliado à pesquisa científica por pesquisadores que compreendem que ciência e natureza andam juntas na preservação da saúde.– Muita gente pensa que fitoterapia é só o “chazinho da vovó”.

Também é, mas não é apenas isso – afirma Glauco Villas Bôas, pesquisador e coordenador do Núcleo do Gestão em Biodiversidade e Saúde de Farmanguinhos. – A planta medicinal é remédio mesmo, e químicos, farmacólogos e antropólogos vêm se unindo para buscar conhecimentos tradicionais.

Levando-se em consideração que 80% da população mundial utiliza medicamentos de origem vegetal e que, segundo Villas Bôas, cerca de 3/5 dos produtos medicinais colocados no mercado têm origem biológica, não há mais como duvidar do poder desse tipo de medicamento.

Prova disso é o fato de que uma das maiores referências em medicina do país, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um laboratório farmacêutico de renome mundial, vêm realizando diversas iniciativas em pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos, sendo pioneiro na área de desenvolvimento de produtos naturais.Da mesma maneira, essa capacidade de gerar riquezas e permitir produtos inovadores não passou desapercebida pelos cientistas e empresas farmacêuticas que, cada vez mais, vêm buscando aliar desenvolvimento científico com conhecimentos tradicionais de povos locais para explorar novas possibilidades:– O Ministério da Saúde e as grandes corporações já perceberam a potencialidade dos fitomedicamentos em um país com a biodiversidade do Brasil – afirma Valério Morelli, engenheiro agrônomo e pesquisador da Farmanguinhos. – Em lugares como a Amazônia, por exemplo, você vê empresas realizando pesquisas de levantamento de dados entre índios e comunidades locais.

E a ideia de que medicamentos fitoterápicos são menos “científicos” do que os remédios sintéticos – os chamados alopáticos - vem sendo lentamente derrubada pela ciência. Segundo Villas Bôas, produtos de origem vegetal já estão se tornando líderes dentro do mercado, com grande aceitação de uma outrora relutante classe médica:– Os problemas com os fitomedicamentos eram a credibilidade e o embasamento científico e tecnológico insuficientes – explica Villas Bôas – No entanto, essa relutância some a partir do momento em que produto passa por essas etapas de pesquisa e tem sua eficácia comprovada.O trabalho científico, aliás, entra em ação logo nas primeiras fases da produção de um fitomedicamento.

As plantas passam por um período de estudo e adaptação para obtenção de substâncias necessárias para a produção de um medicamento. Descobertas em seu ambiente natural, essas plantas são levadas para um local mais controlado, no qual os cientistas devem garantir que estejam padronizadas e que ainda sejam capazes de produzir as substâncias desejadas:– Para estabelecer um padrão químico, pegamos a planta, enviamos para o laboratório e lá é feita sua “impressão digital”, ou seja, descobrimos quais substâncias existem nela e em que concentração – explica o agrônomo Morelli. – Também precisamos garantir que elas continuem produzindo as substâncias depois de retiradas de seu ambiente natural.

Jornal do Brasil