quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nova regra para venda de antibióticos ainda confunde pacientes

Depois de um longo período, trabalhando em vários projetos de ACESSO de medicamentos, visando o mercado emergente (classes D e E) no Brasil, volto a postar mensagens no BLOG. E não poderia deixar de comentar a grande mudança de cultura que iremos enfrentar com a regulamentação para a venda de antibióticos no Brasil.

Falo em grande mudança, pois imaginava-se que a compra de antibióticos de forma espontânea fosse grande, e também, a eventual troca de produtos nas farmácias, buscando um eventual menor preço. Agora estamos falando de seguir rigidamente a prescrição do médico, que deve ser clara, objetiva e de fácil leitura, com validade curta de duração, o que irá trazer ainda um período de adaptação.

A nova regra para venda de antibióticos causou muita confusão no primeiro dia útil (29/11) em vigor. Oito em cada dez clientes das principais redes de farmácias do País tiveram que sair com as mãos vazias, de acordo com levantamento feito pela Abrafarma (Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias).


“Metade deles estava sem receita e a outra metade estava com a receita errada”, detalhou Sérgio Mena Barreto, presidente da associação. A norma da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) prevê uma receita de duas vias para a venda de antibióticos, sendo que uma delas deve ficar retida na farmácia.


As receitas já eram necessárias anteriormente, mas eram receitas convencionais, em apenas uma via, sem a necessidade de retenção nos estabelecimentos. Além disso, a prescrição passa a ter validade de apenas dez dias. Ela deve estar em letra de forma, sem rasuras, com nome completo do paciente, nome do médico, registro profissional, endereço completo, telefone e assinatura.


Quem efetua a compra também passa a ser identificado, com nome, documento de identidade, endereço, telefone e data de emissão. A farmácia ou drogaria é obrigada a anotar, no verso da via retida, o lote do remédio, com data e quantidade vendida.A medida foi publicada em 28 de outubro e entrou em vigor ontem (28/11), restringindo a venda de 93 substâncias como amoxicilina, azitromicina e benzetacil. “O prazo foi curto. Faltou uma campanha eficiente para informar a população e os prescritores (médicos e dentistas)”, avalia Barreto.


Combate à automedicação

O infectologista Arnaldo Lopes Colombo, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) e professor da Unifesp, vê com bons olhos a medida da Anvisa. “Ela é necessária e importante para evitar a automedicação, que pode tornar bactérias mais resistentes”, aponta o especialista.Muitos pacientes, conta o médico, confundem infecções virais com infecções bacterianas e tomam antibióticos por conta própria. “Isso causa efeitos adversos desnecessários”, afirma.Outros pacientes, por se sentirem melhor já no início do tratamento, suspendem o uso da medicação antes do prazo dado pelo médico. Isso favorece a proliferação de bactérias resistentes. No início do tratamento, o antibiótico mata as bactérias mais fracas e precisa de mais alguns dias para completar o serviço. Se a medicação for interrompida, as bactérias restantes tornam-se mais resistentes.


Superbactéria

Apesar de importante, a nova regra da Anvisa ainda não é suficiente para conter o avanço das superbactérias, como a KPC, responsável pela morte de alguns pacientes no Brasil.Isso porque tais bactérias, resistentes a muitos antibióticos, são típicas do ambiente hospitalar e precisam de regras e campanhas voltadas a hospitais e clínicas. “O profissional de saúde precisa ser melhor educação e orientado na prescrição de medicamentos”, ressalta Colombo. O especialista enfatiza a necessidade de várias regras no ambiente hospitalar, entre elas medidas simples como lavar as mãos constantemente. “Isso já ajuda muito no combate à proliferação de bactérias”, afirma.Quando os primeiros casos de bactérias multirresistentes começaram a ser registrados, a Anvisa chegou a recomendar o isolamento dos pacientes infectados. “É preciso também haver um controle hospitalar dos antibióticos prescritos”, defende o infectologista.


Fonte: Portal IG - Bruno Folli