quarta-feira, 15 de julho de 2009

Panarello continua nas mãos dos goianos (DIÁRIO DA MANHÃ – GO)

O grupo Panpharma, que controla a Distribuidora Farmacêutica Panarello Ltda., não será mudanças significativas em seu modelo de gestão. Quem garante é Paulo Panarello, que trouxe o grupo alemão Celesio para compartilhar a administração da empresa atacadista brasileira responsável por 17% de market-share em distribuição farmacêutica.

Na semana passada, a imprensa nacional divulgou que a Panarello teria sido adquirida pelo grupo alemão – presente em 14 países e detentor de uma cartela com 38 mil funcionários.

Por sua vez, o grupo de Goiânia teve um faturamento da ordem de R$ 3 bilhões no último ano e emprega cerca de 3,7 mil funcionários. Os jornais especularam que a negociação gira em torno de R$ 400 milhões, mas Panarello diz que uma cláusula contratual impede a divulgação dos valores.

Em entrevista na sede da Panarello, ontem, em Goiânia, Paulo Panarello garantiu que a entrada dos alemães no sistema de gestão não vai interferir no comando do grupo familiar.

Via conferência eletrônica, Alexandre Fabiano Panarello, diretor-geral do grupo que atua em São Paulo e filho do empreendedor, garantiu que o negócio não se resume à compra da parte majoritária.

Não teria ocorrido uma simples “venda” da empresa, mas “aporte para a sustentação de crescimento da companhia”, sustenta Alexandre. Em resumo: os fundadores Paulo e Ester Panarello terão voz ativa no Conselho de Administração. A presidência deste grupo gestor estará nas mãos do filho Alexandre Fabiano, que será o CEO da companhia. Esta conformação foi aceita pelo grupo alemão, oriundo também de um núcleo empresarial familiar.

Paulo Panarello informa ao DM que surgiu enorme confusão no mercado quando jornais divulgaram a venda da empresa sem apresentar informações seguras e parâmetros do que foi, de fato, acertado. “Ocorreu um vazamento pela imprensa, mas sem informações corretas, o que é muito ruim”, diz.

A primeira informação divulgada pela imprensa, ressalta Panarello, é a participação dos alemães na nova conformação da empresa. Ela está correta, mas existe distorção no montante de capital que fica nas mãos da Celesio. A distribuidora alemã terá 50,1% de controle da Panpharma. A imprensa apontou que a Celesio teria 54% dos capitais da distribuidora goiana.

O erro de quase 4% representa alguns milhões de reais que confundem investidores, mercado e causa estranheza nos próprios condutores da negociação, além de funcionários. “A nova empresa será administrada conjuntamente com executivos da Alemanha. Dois portugueses ligados à Celesio estarão no Brasil para representar o grupo”, informa Paulo. “Não vamos precisar nem falar alemão”, brinca.

Atuação

Ele também reafirma a inexistência de qualquer mudança nos comandos gerenciais da empresa. Descarta ainda interesse em executar demissões de funcionários. Por fim, assegura que a Celesio não tem interesse em atuar com redes de farmácias. No Brasil, garante, a entrada alemã será voltada totalmente para a distribuição de medicamentos – o forte do grupo na Europa.

A hipótese de desvio de função empresarial do grupo alemão seria suficiente para provocar concorrentes, gerar boatos e despertar a ira do segmento de farmácias – exatamente o mercado que a Panarello mais precisa, pois depende dele para sua manutenção. O grupo atende 38 mil farmácias no País e é o maior player atacadista deste setor.

Paulo Panarello reafirmou ao DM que não sairá da Panarello. Antes disso: pretende ser um dos principais executivos na nova fase da companhia. Antes de se aposentar, Paulo deseja ocupar mais espaço no mercado brasileiro de distribuição.

Panarello também fez questão de afirmar que o valor pago pela Celesio não entrará nas contas da família, mas da própria empresa. “Muitas pessoas estão ligando: acham que tenho recursos para investir em confecções, rede de padarias, fábrica de parafusos. Ligam e dizem: ‘Paulo, preciso falar com você.’ Mas o fato é que continuamos nesse negócio de distribuição. Essa empresa é minha vida.”

Estratégias agressivas conferiram participação nacional

O grupo Panpharma é composto pelas empresas Distribuidora Farmacêutica Panarello Ltda, Sudestefarma S.A Produtos Farmacêuticos e American Farma Distribuidora Farmacêutica Ltda.

Sua história começou em 1976, mas o grupo encorpou como grande empresa a partir de 1985. As estratégias agressivas de Paulo Panarello fizeram a empresa fincar bandeiras em diversas capitais do País, caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Atualmente, o grupo tem 16 centros de distribuição. Com cerca de 400 veículos para dar capilaridade aos medicamentos utilizados no Brasil, o grupo Panarello tem possibilidades de ampliar um mercado em expansão. O Brasil se prepara para viver uma ebulição no mercado de similares e genéricos populares e líderes de mercado que devem perder patentes nos próximos dois anos. Apesar de cobrir 97% do território nacional em potencial de consumo de remédios, a Panpharma pode ainda crescer nos grandes centros do País.

De início, o grupo pretende abrir dois novos armazéns. Apesar da disposição em realizar investimentos com recursos oriundos da venda das ações da empresa, a Panpharma não deseja montar estratégias agressivas que possam irritar a concorrência. Segundo Alexandre Fabiano Panarello, o grupo vai se concentrar no crescimento empresarial dentro do País.

Vocação para fazer negócios

Paulo Panarello é um dos exemplos mais significativos de que o empreendedorismo nasce das dificuldades. Filho de pai eletricista e mãe vendedora de pirulitos, Panarello aprendeu a se virar nas ruas. O pai morreu quando ele tinha 5 anos. Do comércio de doces, ele pulou para a mecânica de automóveis. Desta última, aprendeu a juntar peças de carro.

E delas fez uma frota de táxis. Anos depois, comprou uma grande padaria paulista e, por fim, chegou ao ramo de construção de casas populares.

A distribuição de medicamentos veio por último, mas gerou um sistema capitalista de prestação de serviços que revolucionou o mercado brasileiro. A Panarello não tem um “produto”, mas a garantia de que o medicamento (o produto dos outros) chegará em seus alvos com rapidez e logística – um dos fatores que mais interfere no valor de venda. Em 1976, depois de Panarello abandonar São Paulo, o negócio teve início em Goiânia. Pegou corpo na década seguinte.

Paulo Panarello contou com o apoio da mulher, Ester, e, depois, de extensa rede familiar. O novo negócio começou quando o Laboratório EMS, de São Paulo convidou o neófito da indústria farmacêutica para prestar o serviço de distribuição na região Centro-Oeste.

Depois deste início, Paulo Panarello aprimorou a prestação de serviços em seu segmento. Implantou, por exemplo, o sistema de gestão SAP e a utilização de esteiras robotizadas na separação dos produtos. Por fim, investiu em armazéns climatizados que garantem a qualidade e segurança sanitária dos produtos.

Credibilidade

“Mesmo sendo goiana, empresa familiar, distante dos centros, nós atraímos a Celesio. O uso do SAP nos conferiu credibilidade, por ser instrumento de mais alto nível de governança e gestão no que se refere à tecnologia. É confiável em qualquer lugar do mundo”, diz Alexandre Fabiano Panarello.

Paulo afirma que os números da Panarello são “verdadeiros”. Ele não se refere aos concorrentes, que podem camuflar seus resultados, mas deixa claro que existem “meias verdades” no mercado em que milita: “A empresa alemã queria entrar no Brasil e nos escolheu pela credibilidade. Somos um grande mercado e é claro que eles desejam chegar até aqui.”

A negociação entre Celesio e a família Panarello demorou 18 meses e seguiu à risca contratos que exigiram sigilo. “Tudo que foi dito antes de hoje (ontem) não é 100% verdadeiro”, fala Paulo.

Números

Estrutura do grupo que nasceu na Capital

A empresa tem cerca de 400 veículos, entre próprios e terceirizados, o que inclui aviões e caminhões.

A Panarello leva 1 milhão de caixas de remédios diários pelo País.

A empresa emite 15 mil notas fiscais eletrônicas ao dia.

A Panarello chega a 35 mil farmácias brasileiras.

O Grupo Celesio, que atuará junto aos familiares• da Panarello, está em 14 países.

Especulações do mercado afirmam que o• acordo entre a Panarello e a empresa alemã chegou a um valor entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões.

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