quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Hypermarcas – Máquina de compras

O ano de 2009 está sendo atípico para a Hypermarcas. Até agosto, a companhia não anunciou nenhuma aquisição. Desde a fundação, há nove anos, a Hypermarcas comprou 14 empresas e mais de 20 marcas, transformando-se na maior companhia de bens de consumo de capital nacional. A lista de marcas é impressionante: vai do molho de tomate Etti aos adoçantes Finn e Zero Cal, esmaltes Risque, tinturas Biocolor, palha de aço Assolan e medicamentos vendidos sem receita, como Doril, Gelol, Epocler e Engov.

Com o caixa reforçado por R$ 560 milhões obtidos em sua oferta de ações, o apetite por aquisições voltou. O endividamento em relação à geração de caixa operacional recuou para apenas 0,8, depois de aproximar-se dos 3 no fim do ano passado. Agora a companhia procura novas oportunidades, principalmente nas áreas farmacêutica e de cuidados pessoais. Relatório do Credit Suisse que recomenda a compra do papel atribui justamente a aquisições futuras a maior expectativa de valorização nos próximos anos. “O mercado está cético em relação a essa possibilidade e não tem precificado as aquisições”, afirma o relatório de Marcel Moraes. O banco acredita que a empresa fará aquisições de até R$ 2 bilhões nos próximos 18 meses, principalmente na área farmacêutica e de produtos de beleza. O Banco Fator, que recomenda manter as ações, não incluiu aquisições futuras na estimativa de valor da empresa.

As receitas da Hypermarcas estão hoje concentradas na divisão farma (35%) e em produtos de beleza e higiene (37%). Em remédios sem receita médica, em que sofre menor concorrência das multinacionais presentes no Brasil, a Hypermarcas tem 9,9% do mercado. Nessas duas áreas a companhia consegue evitar a concorrência mais dura de grandes multinacionais, como a Unilever. A empresa vem numa trajetória de crescimento drástica: a receita líquida saltou 65% no primeiro semestre. Mesmo excluindo o efeito das aquisições, a Hypermarcas tem conseguido revitalizar marcas “adormecidas”: a receita líquida no conceito ‘mesmas marcas’ cresceu 11%. Os resultados ainda são instáveis: depois de prejuízo no ano passado, a companhia lucrou R$ 208,6 milhões no primeiro semestre.

Embora a oferta de ações tenha tido uma parcela secundária, o controlador João Alves de Queiroz Filho não vendeu participação, nem o segundo maior acionista, uma holding de empresários mexicanos. Houve alguma redução de acionistas que haviam entrado na Hypermarcas na venda da Farmasa (GP Investments e a família Samaja).
Pelo menos uma luz amarela está acesa para os investidores.

Nos últimos quatro anos, a Hypermarcas não distribuiu dividendos nem capital próprio aos acionistas. “A empresa não pagou dividendos porque tinha prejuízos contábeis acumulados. Isso deve mudar a partir de 2010, com a nova legislação contábil”, informou a companhia por meio de sua assessoria. Outra dúvida dos investidores é em relação ao tratamento fiscal do ágio. Até agora, as aquisições, além do benefício operacional, rendiam grande volume de créditos fiscais.

A empresa mantém o direito de amortizar R$ 2 bilhões em ágio já constante em seu balanço, mas há dúvidas sobre o tratamento fiscal em aquisições feitas a partir de 2010, quando o padrão contábil será diferente.

Revista ValorInveste – Valor Econômico

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