quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Varejo farmacêutico mira a Bolsa de Valores


Pague Menos, Drogaria São Paulo e Droga Raia avaliam a possibilidade de seguir a trilha aberta pela Drogasil na Bovespa

A crise que atingiu a economia mundial confirmou a expectativa de que o varejo farmacêutico é um dos poucos setores que podem ser considerados resistentes a períodos de maior turbulência global. Impulsionado pela melhor distribuição de renda entre a população brasileira, o segmento manteve trajetória ininterrupta de expansão de vendas e agora, superado o pior momento da crise, analisa alternativas, como a abertura de capital, para manter o crescimento.

A lista de potenciais interessadas em iniciar a negociação de ações na Bolsa de Valores de São Paulo tem como principais nomes as redes Pague Menos, Drogaria São Paulo e Droga Raia, líder, terceira e quinta maiores do setor, respectivamente, de acordo com ranking da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). A Drogasil, segunda maior do setor, é a única rede de varejo farmacêutico com capital aberto.

É provável que outras empresas sigam a Drogasil na Bolsa em um prazo de até três anos. “Ainda não temos escala para abrir o capital, mas vamos manter nosso ritmo de crescimento e acredito que possamos realizar um IPO em 2012", afirma o presidente da Pague Menos, Deusmar Queirós, referindo-se à Oferta Pública Inicial de ações (IPO na sigla em inglês). Para viabilizar a abertura de capital, explica o executivo, a Pague Menos já contratou a KPMG para fazer a auditoria dos balanços e a Ernst & Young para providenciar os ajustes necessários em relação às práticas de governança corporativa adotadas na companhia.

Com previsão de crescer aproximadamente 25% este ano, a Pague Menos pretende fechar 2009 com faturamento de cerca de R$ 2 bilhões. Até 2012 o resultado deve se aproximar dos R$ 3 bilhões, projeta Queirós, não escondendo o otimismo em relação ao crescimento do mercado de varejo farmacêutico. "Os melhores réveillons da nossa vida ainda estão por vir", comemora. Mais "encorpada", a empresa teria condições de ingressar no mercado como um ativo mais atrativo para os investidores, acredita Queirós.
Droga Raia estuda IPO dentro de 24 ou 30 meses


A Droga Raia, quinta maior do setor, também visa abrir o capital. "Tendo uma visão conservadora, podemos dizer que o ingresso na Bolsa deve acontecer em algum momento nos próximos 24 a 30 meses", afirma o sócio da área de private equity da Gávea Investimentos, Piero Minardi. A Gávea, juntamente com a Pragma Patrimônio, adquiriu no fim do ano passado 30% da Droga Raia, companhia que já havia protocolado pedido de abertura de capital na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no final de 2007.

De acordo com Minardi, a presença exclusiva da Drogasil entre as empresas do setor listadas na Bolsa é explicada pelo perfil pulverizado do varejo farmacêutico no Brasil. As maiores empresas nacionais possuem aproximadamente 300 lojas em operação, em um universo composto por mais de 50 mil pontos de venda.


"O processo de consolidação do setor ainda está no início e, por isso, ainda não há novas empresas com capital aberto", explica Minardi. A Pague Menos, maior empresa do setor segundo a Abrafarma, possui menos de 6% de participação de mercado, segundo números divulgados pela própria empresa.

A fragmentação do mercado é um dos atrativos para investimentos no setor, destaca Minardi. A redução da informalidade, em decorrência da aplicação da substituição tributária em São Paulo e do início da implantação da nota fiscal eletrônica para medicamentos, é outro fator de estímulo a investimentos, seja por grupos especializados na compra de outras empresas, seja pelas grandes redes de varejo com atuação no Brasil. "A formalização foi o ponto de partida para a consolidação do setor. E agora que esse movimento teve início, é difícil de ser interrompido", destaca o sócio da Gávea Investimentos.


Minardi acredita que o varejo farmacêutico possa caminhar para um processo de consolidação assim como ocorreu no setor de distribuição de combustíveis. "O mercado de combustíveis é um espelho do que pode ser o varejo farmacêutico, apesar deste ser mais fragmentado", afirmou. A consolidação no setor de combustíveis criou um grupo de grandes empresas formado por Petrobras, Ultra (detentora da marca Ipiranga), Shell, Cosan e Ale, que incorporaram redes como Esso, Texaco e Repsol, entre outras.

O diretor de Marketing da Drogaria São Paulo, André Elias, acredita que os próximos meses podem ser intensos em relação a mudanças no perfil do setor. "É um setor super aquecido, que já é observado por interessados há algum tempo e que apresenta expansão do profissionalismo", destacou. As vendas do setor no primeiro semestre cresceram 25,25% em relação ao mesmo período do ano passado e somaram R$ 6,14 bilhões, segundo a Abrafarma.

Por ter uma estrutura profissionalizada e ser uma das maiores do setor, a Drogaria São Paulo é uma das companhias que atrai interessados, ressalta Elias. "As possibilidades para a empresa são várias", afirmou, citando a abertura de capital e a prospecção de sócios como algumas das alternativas para a companhia. Recentemente, além da Droga Raia, que negociou parte de sua participação com a Gávea e com a Pragma, outra empresa do setor a receber aporte de investidores foi a Farmais, cujo controle foi adquirido pelo BTG Pactual no final do mês passado.


A redução da informalidade no varejo farmacêutico promovida durante os últimos dois anos estimulou as grandes empresas do setor a intensificar a disputa por participação de mercado. Aproveitando-se do constante crescimento das vendas, as grandes redes aceleraram projetos de abertura de lojas e projetam crescer na casa dos dois dígitos em 2009, a despeito da crise que afetou a economia mundial e brasileira.

Apesar do setor de varejo farmacêutico crescer no País como um todo, são as grandes redes as principais vencedoras do mercado nos últimos anos. Esse movimento foi estimulado pela aplicação da substituição tributária em São Paulo, ocorrida em fevereiro de 2008, e pela implantação da nota fiscal eletrônica para medicamentos principalmente a partir do ano passado. "Com essas mudanças, muitas empresas que antes não pagavam impostos precisaram se adequar", destaca o diretor geral e de Relações com Investidores da Drogasil, Cláudio Roberto Ely.


Grandes em vantagem


O
combate à informalidade afetou principalmente as pequenas e médias empresas, na visão do diretor de Marketing da Drogaria São Paulo, André Elias. "O resultado é que as principais redes levaram vantagem e conseguiram ganhar parcela do mercado", afirmou. De acordo com estimativas da Abrafarma, a participação de mercado das principais empresas do setor (associadas à entidade), que era de aproximadamente 30% três anos atrás, saltou para aproximadamente 50%.

Dados da entidade e da consultoria IMS Health apontam que enquanto a receita das associadas à Abrafarma cresceu 25,25% no primeiro semestre a taxa de crescimento do setor como um todo tem oscilado na casa de 10%, pressionada negativamente pela baixa expansão das empresas menores. Por isso, as redes acreditam que esse é o momento apropriado para mirar uma maior participação de mercado e decidiram manter os investimentos previstos para 2009.

Líder de um mercado dominado principalmente por redes paulistas, a cearense Pague Menos prevê crescer aproximadamente 25% este ano e alcançar um faturamento de cerca de R$ 2 bilhões. Para tanto, a companhia já abriu 20 lojas e deve abrir outras 20 unidades até o final do ano, o que elevará o número total da rede para aproximadamente 340 pontos de venda - já incluídas unidades reformadas. O investimento médio para a abertura de cada unidade é estimado em R$ 1 milhão.

A vice-líder Drogasil, única empresa do setor com ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, também pretende chegar a dezembro com 40 novos pontos de venda. Ao final deste ano a rede deve ter aproximadamente 290 unidades, das quais 30 reformadas este ano e até seis unidades ampliadas desde janeiro. Terceira maior rede do País, a Drogasil São Paulo vai inaugurar aproximadamente 25 lojas este ano e reformar outras 30, alcançando cerca de 250 unidades ao final de 2009.

Presença pulverizada


A estratégia de expansão da cada rede mostra que há espaço para crescimento nesse mercado. A Pague Menos, explica o presidente da rede, Deusmar Queirós, decidiu manter uma presença pulverizada, com a abertura de novos pontos desde grandes centros, como a capital paulista, até cidades menores como Araguaina (TO). A Drogasil optou por consolidar as operações nas regiões onde já atua, apesar de não descartar o ingresso em novos mercados. A Drogaria São Paulo também irá reforçar presença nos estados e regiões onde já opera unidades, segundo Elias.

O bom momento do setor reflete nas condições de financiamento oferecidas às redes. "Dinheiro não falta. Hoje não posso abrir mais lojas porque não há mão de obra qualificada disponível", destaca Queirós, da Pague Menos. A rede deve gerar mais de 1 mil empregos este ano, mas, para isso, precisa treinar a equipe.

Ely, da Drogasil, confirma a preocupação em preparar os novos funcionários. "Há dificuldade em encontrar mão de obra devido à qualidade de serviço que exigimos", destacou. A Drogasil contratou uma empresa especializada para localizar e indicar pessoas com os perfis desejados pela companhia, que depois ainda passam por treinamento próprio da rede.


Agência Estado


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