quinta-feira, 2 de julho de 2009

Crise global interrompe a expansão da classe C no país

(Folha de S. Paulo)

Jornalista: TATIANA RESENDE 02/07/2009

Pesquisa aponta ainda crescimento de 16,6% na renda média dos brasileiros das classes A e B e, na outra ponta, de 12,1% nas D e E.

A crise econômica mundial interrompeu a mobilidade social no país. No final de 2008, a distribuição da população brasileira se manteve praticamente a mesma contabilizada no ano anterior, após a ascensão social registrada até então.

A classe C, principal grupo do país, passou de 36% para 46% da população de 2006 para 2007 e ficou estagnada em 45% no ano passado (veja quadro).Os dados foram divulgados ontem pela Cetelem, do grupo BNP Paribas, e se referem à pesquisa feita no final de dezembro com 1.500 pessoas com 16 anos ou mais em 70 cidades.

Para Marc Campi, presidente da Cetelem no Brasil, o dado é positivo. "Houve uma consolidação dos ganhos que a população teve nos últimos anos."

A renda familiar também aponta nessa direção, com crescimento em todas as classes sociais, com a maior elevação sendo detectada nas classes A e B (16,6%), fechando o ano com média de R$ 2.586.

No outro extremo, as classes D e E tiveram o menor acréscimo (12,1%) nesse comparativo, chegando a R$ 650.

Na opinião de Campi, é preciso olhar ainda mais para trás para ter a dimensão da mudança. Em 2005, por exemplo, esse estrato da população "não fechava as contas", faltando R$ 17 ao final do mês. Já em 2008, sobravam R$ 69 -mais que o triplo do ano anterior (R$ 22).

O professor Waldir Quadros, do Instituto de Economia da Unicamp, destaca que as condições vinham melhorando até setembro, antes do agravamento da crise, e a pesquisa realizada em dezembro já deve ter captado o baque devido à turbulência global.

Neste ano, avalia, "pode ter havido algum retrocesso", mas ressalta que as medidas tomadas pelo governo federal devem ter evitado "uma piora maior do que ocorreria".

O economista Francisco Pessoa, consultor da LCA, cita a redução no número de vagas no mercado de trabalho como um dos motivos dessa estagnação nas classes sociais.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, houve a eliminação de 696 mil postos com carteira assinada em novembro e dezembro. Apesar da melhora no cenário desde então, o saldo, até maio, é negativo. Para voltar aos patamares de outubro, é necessário criar 516 mil empregos formais.

Ainda assim, o economista diz acreditar que "pode voltar a ter ascensão social" neste ano, já que houve o barateamento de bens duráveis, como itens da linha branca (geladeiras, fogões) e automóveis, que tiveram redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Nesta semana, o governo garantiu o estímulo fiscal até o último trimestre, com a volta gradual às alíquotas originais.

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